Sexta-feira, 19 de Maio de 2006

Do fundo do baú (32)


'The sleep of reason produces monsters' de Francisco de Goya
   "The sleep of reason produces monsters"
                                de Francisco de Goya



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Sou uma procissão
de peregrinos do nada,
sem meta, sem Meca,
sem fé.
Caminhamos silenciosos,
tão silenciosos
que dá para ouvir os astros,
nossos (meus) olhos
fitos no abstrato,
vazios e alheios,
sem importar o caminho.
Penso:
tudo será o mesmo?
E ainda assim continuamos,
sem saber a força que empurra
todos os meus
átomos e células... zilhões...
E, para conter os impasses internos,
às vezes intransponíveis,
tento meditar, rezar,
me alhear mais,
mas algo tribal me contém,
por momentos,
e logo estou sem líder,
temo a revolta geral,
amotinamentos mais constantes...
Como controlar este estranho
que em mim habita?
E quando perder a razão
terei encontrado o caminho?


De: João Costa Filho

* 1.ª publicação – 25 de Dezembro de 2005



publicado por jpcfilho às 20:48
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De Sandy a 22 de Maio de 2006 às 00:41
Uma dupla personalidade - peregrinos e o "eu". Talvez se distanciem um do outro como a voz do narrador e a paisagem observada. Talvez se unem para formar um ser que perdeu a razão, mas que pensa tê-la ainda. Encontrar o caminho seria, então, voltar ao racional, recuperar a razão.
Gostei bastante deste texto porque me lembra F.Pessoa - "Vivem em nós inúmeros". Gostei. :-)


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