“La sieste” de Delphin Enjolras
Sempre que reflito
em minhas transformações,
odeio-me,
odeio-te, profundamente,
odeio tudo,
pelas humilhações
a mim impostas
pelos teus descasos...
Enfim,
por me tratares como um nada,
como um lixo qualquer.
Tens-me pisado
e ofendido de todas as formas,
fazendo de mim
um sub-homem.
Eu, que fui respeitável,
circunspeto,
em minhas decisões
e no trato humano,
tornei-me um nada
de pouca valia.
Depois de atravessar
a porta de teu quarto,
sinto o chão de tua cama
oferecer-me o paraíso,
mas, quando
começas a desnudar-te
e a mostrar, com despudorada malícia,
as nuances de tuas ancas,
de teus seios e sexo,
intumescidos de luxúria
e de pecado e lascívia,
torno-me teu escravo,
escravo do desejo mais cruel.
Transfiguro-me, sem nenhum pudor,
afundo-me no centro de ti,
atiro-me às chamas dantescas
de tuas entranhas.
Depois, ajoelho e rezo,
como se fosses minha
Deusa...
De: João Costa Filho